segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Pontos vermelhos

José João, 27 anos, branco, engenheiro civil, procedente do Recife, procurou serviço de pronto-atendimento por apresentar febre alta (40oC), astenia intensa e dores pelo corpo há cerca de 18 horas. Queixava-se ainda de dor de cabeça, náuseas e vômitos (2 episó-dios). Ao exame físico, estava com regular estado geral, hidratado, acianótico, anictérico, bem perfundido, pulsos cheios, afebril. Foram notados pontos vermelho-arroxeados no dorso do pé e face anterior da perna direitos, antebraço esquerdo e mucosa conjuntival. Ausculta cardiorrespiratória normal (FR: 25 ipm; FC: 120 bpm; PA: 120 x 70 mmHg). Cons-ciente, orientado. Leve rigidez de nuca.
Hemograma: Hb: 13,1 g/dL; Ht: 40%;
­Leucócitos: 35.000/­ µL (mielócitos: 350; metamielócitos:105; bastões:5300; segmentados: 15750); linfócitos: 10450 monócitos: 2100.
­Plaquetas: 243.000/­ µL.
­Série branca: granulações tóxicas gosseiras em vários neutrófilos

20 comentários:

  1. objetivos desse caso:
    1-Fisiopatogenia da mialgia, cefaléia secundária e náuseas no processo infeccioso.
    2-O que poderia estar aumentando a frequência cardíaca e respiratória nesse paciente?
    3-Diagnóstico diferencial:
    -Dengue
    -Leptospirose
    -Meningite Meningogócica
    4-Exames: hemograma, LCR com Gram e hemocultura
    5-Conduta: antibioticoterapia e corticoterapia.

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  2. Aluna: Natália Dias

    Pensando como diagnóstico diferencial a Leptospirose, pesquisei a respeito da forma menígea desta, que pode simular um quadro de meningite séptica.
    Há, na segunda semana de doença, reação liquórica em 80% dos pacientes com leptospirose anictérica, embora apenas 50% tenham sinais e sintomas de meningite. Freqüentemente, os pacientes procuram auxílio médico pelos sintomas de meningite, tendo estado assintomáticos na primeira fase. Tendem a ser jovens, crianças ou adolescentes.Durante a fase leptospirêmica, há leptospira nos espaços aracnóideos, na ausência de células inflamatórias. Quando surgem os anticorpos, desencadeia-se uma resposta inflamatória que resulta em meningite. A intensidade desta resposta é variável e não se correlaciona com a gravidade dos outros sinais clínicos. Os sintomas duram um a dois dias,mas podem persistir por duas a três semanas.A glicorraquia está geralmente inalterada. As vezes há elevação isolada das proteínas,com proteinorraquias de até 3 g %.
    O melhor método para diagnóstico diferencial no paciente do caso em questão é a pesquisa do LCR.
    Bibliografia:Feigin, R.D., Cherry, J.D. Textbook of Pediatric Infectious Diseases, Philadelphia, W.B. Saunders, 3ª ed., 1992.

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  3. Em relação à conduta de José João...

    A Interleucina-1 e o TNF-alfa (liberados devido a presença do microorganismo no LCR) promovem a passagem de neutrófilos através da parede endotelial para o LCR, onde irão produzir leucotrienos, fator ativador das plaquetas, prostaglandinas e metabólitos oxigenotóxicos que danificam a barreira hematoencefálica(aumentam a permeabilidade capilar alterando as propriedades dessa barreira).
    Como o uso do corticóide reduz a produção de citocinas inflamatórias no LCR deve se utilizado na conduta desse paciente.
    posologia: dexametasona 0,15mg/kg/dia 6/6horas por 4 dias.

    DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS- SYLVIA LEMOS

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  4. Ainda em relação ao tratamento de José Jõao...

    antibioticoterapia empírica para meningites:

    -entre 18 até 50 anos: ceftriaxone(ou cefotaxima) como esquema de escolha; meropenem ou cloranfenicol como esquema alternativo. Posso acrescentar vancomicina em áreas com mais de 2% de pneumococos altamente resistentes.

    quando confirmado o agente, nesse caso, o N. meningitidis utilizar penicilina cristalina 250-400.000 U/kg/dia até dose de 24.000.000 U/dia de 4/4 horas por 7 dias OU ampicilina 200- 400mg/kg ao dia até dose de 12g/dia de 6/6h por 7 dias.

    *em outra fonte achei que o tratamento podia durar de 7-10 dias.

    EMERGÊNCIAS CLÍNICAS 5°edição

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  5. Aluna: Natália Seixas
    Pensando na hipótese diagnóstica de dengue para o quadro de José, podemos destacar alguns sinais e sintomas típicos do dengue clássico, como febre alta, cefaléia, náuseas, mialgia, além do rash cutâneo, observado em dorso do pé e face anterior da perna direita e antebraço esquerdo. Com relação a rigidez de nuca, podemos encontrar a forma de meningoencefalite do dengue que pode acarretar manifestações clínicas semelhantes a uma meningite bacteriana. Além desses fatores o hemograma de José mostra leve neutrofilia, podendo significar um leucograma de estresse, comum nas fases precoces do dengue, geralmente após 48h de evolução da doença há leucopenia e com linfocitose e atipia celular, o que precisaria ser observado em mais um hemograma do paciente. O fato que mais fala contra o dengue é a contagem de plaquetas estar normal nesse paciente, já que é comum a plaquetopenia na doença clássica. Outro fator que fala contra dengue é o fato dos pacientes apresentarem lesões petequiais após a fase febril por destruição periférica das plaquetas (deposição de imunocomplexos e lise plaquetária), o que não ocorreu com José, já que seus níveis plaquetários encontram-se normais.
    Fonte: Condutas em doenças infecciosas, MEDSI, 2004.

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Aluna: Mariana Barros
    Uma hipótese diagnóstica bem provável para JJ seria doença meningocócica.As manifestações clínicas da doença meningocócica podem variar desde formas benignas, caracterizadas por febre e bacteremia, até quadros muito graves, que evoluem para a morte em poucas horas.Analisando-se o quadro clínico do paciente, observa-se que ele encontra-se septicêmico(aumento das frequências cardíaca e respiratória, leucocitose, bastões>10%), logo, a sua apresentação de doença meningocócica é a meningococcemia com meningite. As formas septicêmicas da doença meningocócica incluem a meningococcemia fulminante, a subaguda e a crônica. A subaguda é a que se associa à meningite (hipótese mais provável de JJ). Esta é a mais frequente e corresponde à forma meningoencefalítica que evolui com exantema purpúrico, sem hipotensão, choque ou coagulação intravascular disseminada e com letalidade baixa, em geral inferior a 10%. Na doença meningocócica, principalmente nas formas que evoluem com meningite, meningoencefalite e meningococcemia, é frequente o aparecimento do exantema purpúrico ou hemorrágico; com frequência, o exantema é petequial, isto é, as lesões fundamentais são petéquias. O hemograma de JJ apresenta leucocitose com desvio à esquerda, o que corrobora a hípótese bacteriana.
    FONTE: Tratado de Infectologia- Veronesi

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  8. Aluna: nayara
    Com relação ao aumento da frequencia cardíaca e respiratória:além do próprio estado de bacteremia que ocasiona o aumento da Fc e da Fr,nos quadros graves de meningite, como no caso em questão, o PH liquórico encontra-se reduzido o que traduz uma tensão elevada de CO2 e causa, em consequência, um persistente estímulo hiperventilatório. Veronesi

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  9. aluna: nayara
    há também o aumento da secreção de ADH que leva a uma hiponatremia dilucional. veronesi
    Este aumento do ADH se deve a que?vocês acharam alguma coisa a mais sobre isso?

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  10. Aluna: nayara
    A compressão dos centros adrenérgicos causada pela hipertensão intracraniana pode acarretar a sua estimulação e, dessa forma, o surgimento de taquicardia, sudorese, palidez, hipertensão arterial, pulso fino e rápido, mas o contrário também pode ocorrer. veronesi

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  11. Aluna: Milena Oliveira

    Em relação ao diagnóstico laboratorial:
    O diagnóstico laboratorial das meningites é realizado através do estudo do LCR, sangue e raspado de lesões petequiais, quando se suspeitar de meningococcemia e
    doença meningocócica.
    Os principais exames para o esclarecimento diagnóstico de casos suspeitos de meningite são:
    • exame quimiocitológico do líquor;
    • bacterioscopia direta (líquor);
    • cultura (líquor, sangue, petéquias ou fezes);
    • contra-imuneletroforese cruzada – CIE (líquor e soro);
    • aglutinação pelo látex (líquor e soro)

    FONTE: Guia de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde

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  12. Aluna: Mirla de Sá
    Na discussão em sala foi levantada a hipótese de Febre Purpúrica Brasileira, entretanto não foi um objetivo de estudo. Mas para descartar esta hipótese, algumas informações a respeito da doença: doença infecciosa aguda, de elevada letalidade, que atinge crianças geralmente após conjuntivite, com agente etiológico Haemophilus influenzae. O quadro inicia-se com a conjuntivite, evoluindo rapidamente com início de febre alta (acima de 38,5ºC), taquicardia, erupção cutânea macular difusa, tipo petéquias,
    púrpuras e outras sufusões hemorrágicas, além de hipotensão sistólica. A enfermidade, em geral, evolui de 1 a 3 dias, ou seja, é um quadro grave, fulminante, com choque séptico e coagulação intravascular disseminada (CIVD), cuja letalidade varia de 40% a 90%.
    Apesar de os achados clínicos serem compatíveis, descartamos a hipótese por se tratar de uma doença que acomete crianças e vem precedida de uma conjuntivite, o que não se observa no caso.
    (Guia de Vigilância Epidemiológica,Caderno 12)

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  13. Aluna: Mariana Morais
    O exame do LCR é o teste laboratorial mais importante para o diagnóstico de meningite. Duas contra-indicaçoes absolutas ao exame consistem em infecção cutanea no local da punçao e hipertensão endocraniana exagerada.
    -No exame citológico do LCR: o aumento de leucócitos no líquor indica processo inflamatório da meninges(a maior parte das meningites bacterianas apresenta cerca de 200 a 1.500 leucócitos/ml).
    -Bacterioscopia(gram): é essencial para orientaçao terapeutica.é um metodo rapido que pode sugerir pela morfologia da bactéria o agente etiológico em até cerca de 90% dos casos.
    -Cultura: ainda que demorada,e sujeita a interferencia de agentes antimicrobianos administrados previamente, é o exame de maior confiabilidade.O isolamento da bactéria permite a feitura de testes de sensibilidade antimicrobiana in vitro(antibiograma)
    -Em RN e pacientes parcialmente tratados, nos quais o exame citológico é duvidoso, indicam-se testes que possam fornecer um diagnõstico etiológico rápido: os testes de detecçao de antigenos(contra-imunoeletroforese cruzada, teste do látex, Elisa, radioimunoensaio)

    Desculpas pela ausencia de acentuaçao, mas é que o teclado do meu computador está desconfigurado.

    Bibliografia: tratado de infectologia 3a ediçao- Veronesi

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  14. Aluna: Mayra Vieira
    Segundo o Guia de Vigilância Epidemiológica, a Dengue é uma doença dinâmica cuja evolução ocorre de maneira rápida, tendo o doente passado de um estágio a outro subitamente
    É importante estar atento aos sinais de alerta para evolução grave da doença e realizar reavaliação períodica tanto física quanto da história clínica.
    O tratamento é sintomático (com analgésicos e antipiré ticos), sendo indicada hidratação oral ou parenteral, dependendo da caracterização do paciente.

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  15. Aluna: Mayra Vieira
    Fonte: Guia de Vigilância Epidemiológica
    SINAIS DE ALARME DA DENGUE:
    a) Dor abdominal intensa e contínua
    b) Vômitos persistentes
    c) Hipotensão postural e/ou lipotímia
    d) Hepatomegalia dolorosa
    e) Hemorragias importantes (hematêmese ou melena)
    f) Sonolência e irritabilidade
    g) Diminuição da diurese
    h) Diminuição repentina da temperatura corporal ou hipotermia
    i) Aumento repentino do hematócrito (mulheres acima de 40%, homens acima de 45%)
    j) Queda abrupta de plaquetas (principalmente abaixo de 20.000)
    k) Desconforto respiratório

    SINAIS DE CHOQUE:
    a) Hipotensão arterial
    b) Pressão Arterial convergente (diferença PAS - PAD < 20mmHg)
    c) Extremidades frias, cianose
    d) Pulso rápido e fino
    e) Perfusão capilar periférica lentificada (> 2seg)

    O paciente do caso não apresentava nenhum dos sinais de alarme ou de choque aqui apresentados, sendo, portanto, sua hipótese de Dengue do tipo clássica.

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  16. Aluna: Mayra Vieira

    Analisando o hemograma do paciente, vemos que ele não apresenta anemia ou hemoconcentração (HT mínimo de 45% para homens adultos), tranquilizando-nos sobre provável hipovolemia resultante do processo infeccioso.
    Seu leucograma está elevado, apresentando uma leucocitose à base, principalmente, de polimorfonucleares, o que fala mais à favor de um quadro infeccioso bacteriano (o desvio à esquerda apresentado no exame também corrobora esta hipótese). Há produção de células de defesa imaturas que estão sendo despejadas na corrente sanguínea na tentativa de conter a infecção, que está atingido um estado grave com toxemia, como observado pela presença de granulações tóxicas gosseiras.
    As plaquetas do paciente encontram-se dentro dos limites normais.

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  17. Só fazendo uma correção: meus dois comentários sobre Dengue (tratamento e sinais de alarme) foram, na verdade, tirados do DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS - GUIA DE BOLSO, do Ministério da Saúde, 8ª Edição, de 2010, e não do Guia de Vigilância Epidemiológica.

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  18. Aluna: Mariana Viana

    Em um paciente com doença aguda caracterizada por febre e exantema, os aspectos típicos da lesão e as manifestações clínicas da síndrome associada facilitam o diagnóstico. Além disso, uma boa anamnese é importante para verificar se o paciente tem história de uso de fármacos nos últimos dias, história de picada de animais, exposição a animais domésticos e viagens recentes para ajudar no diagnóstico diferencial. A meningite meningocócica é uma doença que cursa com este quadro acima. Em relação ao prognóstico, ele é pior quando existe choque, idade maior ou igual a 60 anos e contagem normal ou baixa de leucócitos. Prevenção: a aplicação da vacina tetravalente imuniza 80 a 95% dos adultos imunocompetentes. A duração da imunização em adultos é menor que 5 anos.

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  19. Aluna: Marilia Abath

    Complementando as informacoes ja fornecidas...
    o meningococo possui 3 importantes fatores de virulencia:
    1-capsula polissacaridica resistente a fagocitose
    2-endotoxina lipooligossacaridica (LOS) pode ser liberada em grande quantidade, processo chamado de ''blebbing'', ocasionando febre e choque. A LOS interage com as celulas humanas produzindo citocinas proinflamatorias, incluindo IL-6, IL-1 e TNF-a. LOS e tambem uma importante estrutura para mediar a aderencia e invasao as celulas epiteliais.
    3- A protease Ig A1 cliva a glicoproteina 1 de membrana lisissomal (AMP-1), ajudando o microorganismo a sobreviver dentro da celula.

    A degrdacao da proteina C da via de anticoagulacao leva ao desenvolvimento de purpura fulminante na meningococcemia.
    Endotoxinas, citocinas e radicais livres lesam o endotelio vascular produzindo deposicao de plaquetas podendo resultar em vasculite.

    (MEDSCAPE)

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  20. A grande maioria das infecçõs pelo meningococo resulta apenas em colonização da nasofaringe, portanto, a transmissão ocorre por contato direto com as gotículas de saliva do portador. Já a saliva, inativa a bactéria,ou seja a contaminação oral é considerada insignificante.
    Além das precauções de rotina, esse pacientes devem ser mantidos em isolamento respiratório. Profissinais que tiveram contato com o paciente antes das 24hrs iniciais do TTO devem fazer uso de máscaras.

    Tratado de Clínica Médica- Antônio Carlos Lopes,2ªed.

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